A arte efêmera ou a “A arte do momento”, é uma forma de expressão artística com o conceito de existir apenas por um curto período de tempo. Ao contrário das pinturas e esculturas tradicionais, feitas para durar gerações, essa forma de expressão abraça o desapego à permanência e revela a beleza do transitório e do imprevisível. Enquanto o artista tradicional preserva e garante a durabilidade de sua obra, o artista da arte efêmera projeta suas criações para desaparecerem, fazendo da própria destruição parte essencial da obra.
Origem e conceito da arte efêmera
A palavra Efemera deriva do grego – Ephemera (ἐφήμερα), significando coisas que não duram mais do que um dia. A ideia de “arte efêmera” começou a ganhar destaque no século XX, com o surgimento de movimentos de vanguarda que questionavam os valores e as tradições da arte “permanente” e comercial. Artistas do Dadaísmo, no início do século XX, começaram a explorar essa efemeridade como uma forma de provocar e desafiar o mercado e a cultura de consumo. Nos anos 1960 e 1970, movimentos como o land art, o happening, e a arte conceitual também abraçaram a efemeridade. Artistas como Robert Smithson, Christo e Jeanne-Claude e Marina Abramović criaram obras que existiam apenas por um curto período ou que se integravam e se alteravam com a natureza, realçando o caráter transitório. A popularidade da arte efêmera cresceu ainda mais nas últimas décadas, refletindo as mudanças culturais e o ritmo acelerado da vida moderna, onde o “aqui e agora” passou a ter valor. Essa evolução fez com que a arte efêmera se tornasse uma linguagem artística relevante, que valoriza a experiência e o impacto momentâneo, em contraste com a ideia de permanência e imortalidade da arte tradicional.
Tipos de Arte Efêmera
A arte efêmera abrange diferentes manifestações, cada uma explorando sua breve duração de maneira única.
- Arte de Rua e Grafite: Obras de artistas de rua, como os murais e grafites, são expostas ao desgaste da vida urbana e frequentemente removidas ou substituídas. Banksy, por exemplo, utiliza a efemeridade para comentar temas políticos e sociais, como na obra “Girl with Balloon”, que se autodestruiu parcialmente ao ser leiloada, desafiando o próprio valor do mercado de arte.
- Land Art: Com obras construídas em locais naturais e feitas de elementos como folhas, pedras e areia, a land art celebra a conexão entre natureza e arte. Um exemplo famoso é o “The Spiral Jetty” de Robert Smithson, um espiral construído com pedras em um lago salgado que, com o tempo, muda de aparência devido à variação do nível da água e à ação do sal.
- Performances e Instalações Temporárias: Performances ao vivo, como a obra “The Artist Is Present” de Marina Abramović, são efêmeras por natureza, pois a interação entre artista e público é um momento irrepetível. Instalações como o “The Floating Piers” de Christo e Jeanne-Claude, uma passarela temporária sobre o Lago Iseo, na Itália, também se encaixam nesse conceito. A obra existiu por apenas 16 dias, deixando uma marca profunda na memória de quem a visitou.
Arte Efêmera no Brasil
A arte efêmera no Brasil é uma expressão rica e diversificada, que abrange desde intervenções urbanas e grafites até performances e instalações temporárias, sendo especialmente ligada à cultura de rua. Artistas brasileiros têm explorado a efemeridade de maneira inovadora e socialmente engajada, muitas vezes abordando temas de crítica social e política, usando a transitoriedade da arte como uma maneira de dialogar com o público de forma direta e acessível.
Principais Manifestação da Arte Efêmera no Brasil
- Grafite e Intervenção Urbana: O grafite brasileiro, popularizado por artistas como Os Gêmeos, Eduardo Kobra e Nina Pandolfo, é uma das formas mais conhecidas de arte efêmera no país. Esses artistas usam muros e espaços públicos para criar murais que se integram ao cenário urbano e abordam temas variados, desde a valorização da cultura brasileira até críticas sociais. Em cidades como São Paulo, o grafite e as intervenções urbanas são transitórias, sendo frequentemente apagados, renovados ou substituídos, o que faz parte da própria dinâmica da cidade.
- Land Art e Arte Ambiental: No Brasil, a land art também ganhou espaço, especialmente em intervenções que destacam a relação entre a arte e a natureza. Um exemplo icônico é o trabalho de Frans Krajcberg, um artista brasileiro naturalizado que explorou a efemeridade ao usar materiais naturais, como troncos queimados e pigmentos minerais, para conscientizar sobre a preservação ambiental e os efeitos da destruição das florestas. Suas obras, embora não fossem sempre temporárias, frequentemente apresentavam um aspecto de degradação natural como forma de crítica ecológica.
- Performances e Happenings: Artistas como Lygia Clark e Hélio Oiticica inovaram com performances e happenings na década de 1960, aproximando a arte da experiência sensorial e temporária do público. Hélio Oiticica, por exemplo, desenvolveu os Parangolés, capas e mantos que só se completavam com o movimento dos participantes. Essas performances e experimentações foram fundamentais para consolidar a ideia de arte como uma experiência momentânea, única e interativa no Brasil.
Eventos de Arte Pública Temporária: Mais recentemente, eventos como a Bienal de São Paulo e a Bienal Internacional de Arte da Bahia têm incluído obras de arte efêmera, como instalações temporárias e intervenções públicas. Esses eventos incentivam artistas a criar obras que só podem ser experimentadas durante o período da exposição, ampliando o acesso à arte efêmera e aproximando o público de uma nova forma de expressão.
Principais características da Arte Efêmera
Transitoriedade: Artistas usam a efemeridade para abordar questões sociais, culturais e políticas, aproveitando o caráter passageiro da arte para provocar reflexões urgentes e subverter a lógica do consumo e da propriedade artística.
Interatividade: Muitas obras de arte efêmera envolvem a participação do público, que é essencial para completar ou transformar a experiência da obra. A interação é parte fundamental do processo criativo.
Contexto e Localidade: Essa forma de arte muitas vezes dialoga diretamente com o ambiente ao seu redor, seja em espaços urbanos (como grafites e intervenções urbanas) ou em ambientes naturais (land art), sendo influenciada pelo local em que está inserida.
Desapego à Permanência: A arte efêmera desafia a noção tradicional de preservar e imortalizar a arte, valorizando o momento presente e o impacto imediato sobre o espectador.
Crítica Social e Reflexão: A efemeridade é usada frequentemente para refletir sobre questões sociais, culturais e políticas, aproveitando seu caráter passageiro para provocar reflexões urgentes ou para subverter a lógica do consumo e da propriedade da arte.
Documentação como Memória: Como a obra em si não dura, a documentação (fotografias, vídeos, relatos) torna-se fundamental para registrar sua existência e impacto. Mesmo que a obra desapareça, esses registros mantêm viva sua ideia e relevância.
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