A fotografia, desde sua invenção no século XIX, suscitou inúmeras reflexões sobre arte, cultura e sociedade. Ao longo do tempo, vários filósofos e teóricos se debruçaram sobre a natureza dessa nova linguagem visual, analisando sua função, suas limitações e seu impacto na forma como nos relacionamos com o mundo. Nesta breve trajetória, resolvi destacar cinco grandes pensadores: Walter Benjamin, Roland Barthes, Susan Sontag, John Berger e Vilém Flusser. A seguir, apresento dados básicos sobre cada um, bem como suas principais ideias acerca da produção fotográfica.

Walter Benjamin

Walter Benjamin

 

Walter Benjamin (1892–1940)

Filósofo e ensaísta alemão, conhecido por suas reflexões sobre arte, história e cultura. Em seu célebre ensaio “A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica” (publicado pela primeira vez em 1935–1936), Benjamin analisa como a capacidade de reproduzir imagens em larga escala transforma a relação entre o público e a obra de arte. Para ele, a fotografia (e, posteriormente, o cinema) enfraquece aquilo que chamou de “aura” – a presença única e original de uma obra no tempo e espaço. Com a possibilidade de reproduzir infinitamente uma imagem, perde-se parte de sua unicidade. Benjamin, no entanto, não via isso como algo totalmente negativo; ao mesmo tempo em que se esvazia a aura, cria-se uma nova forma de interação, mais democrática e acessível.

Essa dinâmica, segundo o filósofo, redefine a função social da arte e inaugura discussões que reverberam até hoje sobre autenticidade, autoria e valor artístico.

 

Roland Barthes

Roland Barthes

Roland Barthes (1915–1980)

Filósofo, crítico literário e semiólogo francês. Ele dedicou boa parte de seus estudos à análise dos signos culturais e às estruturas de significação. Em seu livro “A Câmara Clara” (ou “Camera Lucida”, de 1980), apresenta dois conceitos fundamentais para a teoria fotográfica: o studium e o punctum. O studium diz respeito ao INTERESSE GERAL que temos por uma foto, como elementos culturais, históricos ou estéticos que chamam nossa atenção. Já o punctum é algo MAIS SUBJETIVO, um detalhe que “fere” o observador e desperta uma reação emocional profunda, fugindo de qualquer explicação lógica ou racional. Dessa maneira, Barthes enxerga a fotografia como uma forma única de contato entre o observador e o objeto fotografado, pois registra não apenas a aparência de um momento, mas uma espécie de vestígio temporal ( a ideia de que, isso existiu) que atravessa décadas ou séculos para chegar até nós.

Susan Sontag

Susan Sontag

Susan Sontag (1933–2004)

Escritora, ensaísta e cineasta norte-americana, cujos trabalhos permeiam a crítica social e cultural. Em seu livro “Sobre Fotografia” (1977), ela examina como as imagens fotográficas moldam nossa percepção de realidade e influenciam os modos de ver e lembrar. Sontag argumenta que a câmera pode tanto revelar como ocultar aspectos importantes dos acontecimentos, dependendo do ângulo e da intencionalidade do fotógrafo. Ela reflete sobre como a fotografia se tornou uma forma de CONSUMIR o mundo, transformando-o em fragmentos estéticos colecionáveis. Ao mesmo tempo, alerta para o risco de banalização: ao sermos bombardeados por imagens (especialmente de sofrimento e guerra), podemos nos tornar insensíveis ao que elas representam. Dessa forma, a fotografia, para Sontag, contém um PARADOXO MORAL: documenta e expõe injustiças, mas também pode dessensibilizar o público frente à dor alheia.

 

John Berger

John Berger

John Berger (1926–2017)

Escritor, crítico de arte e pintor inglês, mais conhecido  pelo livro “Ways of Seeing” (1972) e “Para entender uma fotografia” (2017 – Companhia das Letras) Berger explorou como interpretamos e atribuímos significado às imagens, incluindo as fotográficas, mostrando que o modo como olhamos é fortemente influenciado pelos contextos sociais, históricos e políticos. Ele via a fotografia como parte de uma tradição mais ampla de representações visuais, inserida em um sistema simbólico. A grande contribuição de Berger está em alertar que não existe “OLHAR NEUTRO”: as imagens são moldadas por ideologias e, consequentemente, moldam a maneira como compreendemos o mundo.

 

John Berger

John Berger

Vilém Flusser (1920–1991)

Filósofo nascido em Praga (na atual República Tcheca), que mais tarde se naturalizou brasileiro vivendo no Brasil de 1940 até 1973. Reconhecido por seu pensamento sobre comunicação e cultura, Flusser dedicou atenção especial à fotografia no livro “Uma Filosofia da Caixa Preta” (1985). Ele propõe o conceito de “aparelho” (a câmera) como uma “máquina” que determina as possibilidades criativas do fotógrafo, comparando-o a um operador que deve obedecer as REGRAS do dispositivo. Para Flusser, a fotografia NÃO É uma REPRESENTAÇÃO PASSIVA da realidade, mas um processo de codificação que reflete tanto a estrutura interna do aparelho fotográfico quanto as intenções do fotógrafo. O ato de fotografar se torna, assim, um diálogo entre a liberdade criativa do fotógrafo e as limitações impostas pela máquina. Desse modo, Flusser discute como o grande conjunto das imagens técnicas transforma radicalmente nosso modo de conhecer e representar o mundo, trazendo novos desafios para reflexão.

Conclusão

Esses cinco pensadores – Benjamin, Barthes, Sontag, Berger e Flusser – abriram caminhos distintos para compreender a fotografia como linguagem e prática social. Eles abordaram questões que vão desde a perda da “aura” e a subjetividade emocional até a análise das estruturas políticas e tecnológicas que definem o ato fotográfico. Embora cada um tenha vivido em contextos históricos diferentes e desenvolvido teorias com ênfases diversas, todos contribuíram para a consolidação da fotografia como objeto de reflexão estética e filosófica. Suas ideias continuam atuais e nos estimulam a olhar criticamente para as imagens que produzimos e consumimos diariamente, reconhecendo que cada fotografia é, em última instância, um reflexo das tensões e dificuldades entre o indivíduo, a câmera e a sociedade.

 

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Thales Trigo