Por volta dos anos 1820, a fotografia surgiu como uma combinação de arte e ciência, capaz de congelar momentos e criar imagens fiéis ao que os olhos viam. Essa inovação mudou a forma de registrar a história, que passou a ser contada também em fotos, e não só em texto. Com o passar do tempo e o avanço da tecnologia, a fotografia se popularizou, e logo as famílias começaram a usar o novo meio para guardar lembranças para as próximas gerações.
Esses primeiros retratos nos levam de volta a um estilo de vida bem diferente: famílias grandes, roupas volumosas e poses rígidas e formais. E, claro, ninguém sorria. As expressões sérias das fotos antigas podem até nos fazer pensar que as pessoas do passado tinham uma vida rígida e sem diversão. Mas, na verdade, há várias razões para essas caras fechadas. Abaixo, vamos desvendar o que está por trás dessas expressões duronas nos registros antigos.
Longos Tempos de Exposição
Nos primeiros tempos da fotografia, tirar uma foto de uma pessoa era uma tarefa complicada por conta dos longos períodos de exposição necessários. A famosa “Vista da Janela em Le Gras” (1826), feita por Nicéphore Niépce, precisou de cerca de oito horas de exposição para captar uma imagem! Só depois de mais de uma década, em 1839, com a criação do daguerreótipo por Louis Daguerre, a fotografia de retratos começou a ser viável. Ainda assim, o processo era bem demorado e exigia que o retratado ficasse imóvel por até 20 minutos.
No começo dos anos 1840, a tecnologia avançou mais um pouco, reduzindo o tempo de exposição para cerca de 20 segundos. Mesmo assim, quem já tentou manter um sorriso por muito tempo sabe que é fácil o sorriso virar uma careta estranha. E, para quem lida com crianças, qualquer tentativa de fazê-las ficar paradas por muito tempo pode ser um grande desafio! Para garantir que tudo saísse em foco, especialmente com crianças, às vezes elas até usavam suportes para ficarem firmes durante a sessão.
Outro ponto é que, até o século XX, os equipamentos e produtos químicos usados na fotografia eram muito caros e perigosos, então a maioria das fotos eram feitas por profissionais, em estúdios ou durante visitas com todo o equipamento. Como esse processo era demorado e custava caro — muitas vezes o equivalente a alguns meses de salário — a maioria das pessoas só tirava fotos uma ou duas vezes na vida. Assim, com todo o custo, a pose séria era mais prática e segura, e acabou virando uma tradição. Mesmo depois que a tecnologia permitiu fotos mais rápidas, demorou bastante para que o hábito de sorrir nas fotos se tornasse comum.
Os primeiros fotógrafos imitavam os retratistas
Embora as limitações tecnológicas sejam frequentemente citadas como a razão para as expressões solenes em fotografias antigas, não era a única razão pela qual nossos ancestrais frequentemente pareciam solenes diante da câmera. Uma característica notável compartilhada por retratos de artistas dos séculos XVII e XVIII e fotografias do início do século XIX é a presença de expressões estoicas e enigmáticas nos rostos dos sujeitos. Como a retratista Miss La Creevy observa no romance Nicholas Nickleby de Charles Dickens, apenas dois tipos de expressões existiam no retrato: “o sério e o sorriso irônico”. Antes da fotografia, um retrato pintado era a única maneira de preservar a imagem de alguém para a posteridade. Ter seu retrato pintado era uma atividade associada à riqueza e ao status social e, consequentemente, a forma de arte tinha suas próprias regras e expectativas. Esse retrato formal provou ser uma grande influência nos primeiros fotógrafos, que apresentavam seus sujeitos de maneiras que representavam seu status social, ocupação ou outros interesses. Os costumes sociais associados aos retratos pintados foram transferidos para o retrato fotográfico, e sorrir era desencorajado.
Etiqueta social desaprovada ao sorrir
Alguns historiadores acham que o desenvolvimento e a maior acessibilidade dos cuidados dentários ajudaram a tornar os sorrisos mais comuns nas fotos ao longo do tempo. Mas outros especialistas discordam, apontando que, por séculos, a falta de tratamentos dentários era bem normal e não diminuía a beleza das pessoas, então a ausência de sorrisos nas fotos não estava diretamente ligada à condição dos dentes.
Nos primeiros tempos da fotografia, era raro ver alguém sorrindo em um retrato. Em vez de dizer o famoso “xis!” para abrir aquele sorriso largo, alguns fotógrafos vitorianos na Inglaterra pediam que as pessoas dissessem “ameixas”, para que mantivessem uma expressão de lábios fechados, considerada mais apropriada e elegante. Na época, abrir um sorriso podia ser interpretado como um sinal de pobreza, desordem ou falta de decoro. Só que essa tradição mudou radicalmente com a popularização das câmeras da Kodak no começo do século XX, quando tirar fotos se tornou algo mais acessível e descontraído.
A Revolução Kodak
Com o fim do século XIX, a fotografia começou a ficar mais acessível, e muito mais gente começou a tirar e a posar para fotos, o que deixou as poses dos retratos menos rígidas. Em 1888, George Eastman, fundador da Kodak, revolucionou o mundo da fotografia, criando câmeras que podiam ser usadas por amadores e até incluíam um guia rápido de como tirar boas fotos. Em 1900, a Kodak lançou a câmera Brownie, vendida a apenas US$ 1 e voltada até para crianças, o que fez a fotografia virar febre também entre os adultos.
Já nos anos 1920, um século depois das primeiras fotos, as poses nas imagens ficaram mais soltas e expressões variadas — inclusive sorrisos de boca aberta e fechada — passaram a ser comuns em fotos amadoras e profissionais. Com o avanço da fotografia em cores, a popularidade dos cliques espontâneos e o surgimento de câmeras pessoais mais baratas, capturar uma variedade de emoções, incluindo momentos de alegria genuína, virou o padrão.
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