A Regra dos Terços é uma das primeiras lições ensinadas a quem se aventura pela fotografia. Simples e eficaz, ela ajuda a criar equilíbrio visual — mas limitar-se a ela é como tentar escrever poesia usando apenas uma métrica. Compor uma boa imagem vai muito além: envolve organizar elementos visuais para contar histórias, evocar emoções e conduzir o olhar de quem vê.
Neste post, vamos explorar como fotógrafos consagrados Saul Leiter, Alex Webb e Vivian Maier usaram a composição de maneira livre e expressiva, muitas vezes desconsiderando qualquer regra tradicional. E vamos mostrar como você também pode pensar além da Regra dos Terços para construir imagens mais ricas, complexas e autorais.
O poder das linhas, cores e camadas
Linhas diagonais sugerem movimento. Horizontais transmitem tranquilidade. Texturas acrescentam profundidade, e cores contrastantes despertam emoções intensas. Compor é isso: usar cada elemento da cena com intenção.
É possível criar tensão, guiar o olhar ou sugerir múltiplas leituras — tudo apenas pelo modo como posicionamos os objetos no quadro. É exatamente esse domínio visual que encontramos nas obras a seguir.

Through Boards (c. 1957) – Saul Leiter
Saul Leiter era mais do que fotógrafo — era também pintor, e isso se reflete no uso sutil das cores e nas composições fragmentadas. Em Through Boards, vemos uma figura humana através de frestas de madeira. A imagem é parcialmente oculta, como se o espectador espreitasse a cena.
O foco suave e os tons pastéis criam uma sensação de distância e contemplação. Leiter não se preocupa com os terços — ele quer que você sinta. E sente-se muito: profundidade, silêncio, poesia visual.

San Miguel de Allende, México, 1983 – Alex Webb
A fotografia de Alex Webb é sinônimo de caos organizado. Em San Miguel de Allende, seis personagens ocupam planos diferentes, envoltos por muros coloridos, sombras dramáticas e áreas de luz dura.
A cena pulsa. Cada parte do quadro tem uma micro-história — e todas convivem em harmonia. É a sobreposição de elementos, a fragmentação de luz, e a presença humana que tornam essa imagem inesquecível. Webb mostra que composição também é arquitetura visual da narrativa.

Chicago, 1956 – Vivian Maier
Vivian Maier, sempre entre o invisível e o revelado, registrou essa cena dentro de um bonde. A luz entra por uma abertura e atinge o rosto de uma mulher. Ao redor, sombras densas criam um contorno dramático.
A imagem brinca com contrastes, geometrias e timing perfeito. É um retrato íntimo e cinematográfico. Maier compõe com a cidade, com o acaso e com a luz natural — uma verdadeira coreógrafa da rua.
Compor é decidir com intenção
Esses três exemplos mostram que a Regra dos Terços pode ser útil, mas não é mandamento. Composição é decisão. É perguntar: “O que eu quero que vejam?” e “O que posso esconder para sugerir?”.
Seja com camadas, com luzes e sombras ou com enquadramentos inusitados, fotografar com intenção é o que transforma o comum em algo visualmente poderoso. E como nos ensinaram Leiter, Webb e Maier, a verdadeira composição nasce do olhar atento, não da régua.
Sugestão:
Analise essas imagens e estude seus elementos. Tente fazer o mesmo: esconda algo, use um reflexo, sobreponha figuras, ou simplesmente espere pela luz certa. Você não precisa seguir uma regra — só precisa ter intenção.
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Thales Trigo
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