A fotografia colorida revolucionou a maneira como percebemos o mundo através das lentes, trazendo uma dimensão extra de expressão que se junta à forma, à textura e ao contraste já existentes no preto e branco. Enquanto a fotografia em tons de cinza valoriza linhas, silhuetas e alto contraste, a cor acrescenta profundidade emocional, possibilitando que o fotógrafo transmita sensações de calor, frio ou vivacidade por meio de diferentes matizes. É essa intensidade cromática que muitas vezes nos faz criar uma conexão imediata com a imagem, já que as cores podem evocar memórias e sentimentos de maneira quase instantânea.

FOTO 1: WILLIAM EGGLESTON (1939)

WILLIAM EGGLESTON

Um ponto crucial na história da fotografia colorida foi a aceitação gradual da cor como uma forma legítima de expressão artística. Antes disso, o preto e branco era considerado o padrão “nobre” ou “clássico” da fotografia. Muitos puristas acreditavam que a cor distrairia o espectador dos elementos essenciais de composição, luz e sombra. Contudo, fotógrafos visionários provaram que a cor poderia intensificar a narrativa visual ao sublinhar detalhes que passariam despercebidos em preto e branco. Na prática, o uso da cor pode reforçar a personalidade do assunto fotografado e, ao mesmo tempo, oferecer múltiplas camadas de interpretação, seja destacando um objeto específico, seja criando um clima particular.

FOTO 2: WILLIAM EGGLESTON

WILLIAM EGGLESTON

William Eggleston é um nome fundamental na transição da fotografia colorida para o universo das galerias de arte. Nascido em Memphis, no Tennessee, Eggleston ganhou destaque ao capturar cenas do cotidiano do sul dos Estados Unidos na década de 1960. Seu trabalho desafiou o status quo, mostrando que um posto de gasolina, uma placa ou mesmo um refrigerante em uma mesa poderiam se tornar imagens icônicas quando vistos sob a perspectiva certa. Seus tons saturados e composições aparentemente simples, mas cuidadosamente equilibradas, ajudaram a consolidar a ideia de que a cor, longe de ser um elemento de distração, era uma ferramenta capaz de ampliar a expressividade fotográfica. A exposição “William Eggleston’s Guide”, no Museu de Arte Moderna de Nova York, em 1976, é muitas vezes citada como um marco para a legitimação da fotografia colorida no circuito de arte.

FOTO 3: STEPHEN SHORE

WILLIAM EGGLESTON

Outro nome de peso é Stephen Shore, cujo trabalho também contribuiu para a expansão e aceitação da fotografia colorida como uma linguagem visual consistente. Shore focava em cenas comuns e espaços de trânsito – ruas, estacionamentos, pequenos estabelecimentos comerciais. Ao escolher o banal como tema, ele revelava uma estética própria da vida americana na segunda metade do século XX. Suas imagens, muitas vezes compostas com precisão quase cirúrgica, utilizam cores que vão do pastel a tons vibrantes. Essas paletas não apenas criam harmonia entre os elementos, mas também exploram o contraste entre o que é considerado “feio” ou “comum” e o que pode ser reconhecido como arte. A sutileza na escolha das cores e a composição espacial transformam lugares ordinários em registros memoráveis.

FOTO 4: STEPHEN SHORE

STEPHEN SHORE

Em síntese, a fotografia colorida se destaca pela capacidade de transmitir sensações imediatas por meio de suas variações de tons, destacando ou suavizando elementos de acordo com a intenção do artista. Eggleston e Shore são apenas dois exemplos marcantes dessa revolução criativa, mostrando como a cor pode ser usada para valorizar até mesmo as cenas mais corriqueiras. Hoje, a fotografia colorida é amplamente aceita e praticada, e sua beleza reside justamente nessa pluralidade de interpretações cromáticas, capazes de encantar, provocar reflexões e narrar histórias completas em um único instante capturado pela câmera.

 

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Thales Trigo

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