A fotografia de paisagem sempre desempenhou um papel fundamental na história da fotografia, sobretudo na busca por representar, com fidelidade ou dramaticidade, a beleza natural do mundo. Dois nomes importantes desse gênero são Ansel Adams (1902 – 1984) e Edward Weston (1886 – 1958), mestres do preto e branco e também no uso de câmeras de grande formato.

Nos tempos mais recentes, novos fotógrafos, como o australiano Peter Lik (nascido em 1959), trouxeram técnicas digitais, cores vibrantes e estratégias de mercado inovadoras, o que provoca debates sobre autenticidade e valor artístico.

Ansel Adams

Ansel Adams

 

Ansel Adams notabilizou-se por suas fotografias do Parque Nacional de Yosemite, nos Estados Unidos. Ele desenvolveu o Sistema de Zonas, técnica de medição e controle de exposição que possibilitava uma riqueza de tons de cinza inédita até então. Uma de suas imagens mais icônicas, “Moonrise, Hernandez, New Mexico” (1941), exemplifica essa habilidade: a Lua nascendo sobre a pequena cidade, com nuvens dramáticas e um céu que ocupa boa parte da composição. A perfeição técnica de Adams, aliada ao uso meticuloso das câmeras de grande formato, resultava em cópias com detalhes impecáveis e forte impacto visual. Seu objetivo ia além do mero registro: desejava transmitir uma profunda admiração pela natureza, incentivando sua preservação.

Ansel Adams

Ansel Adams

Edward Weston, por sua vez, seguiu um caminho similar em termos de equipamento — também recorria a grandes formatos e optava por composições sóbrias. Seu estilo, no entanto, focava tanto nas paisagens quanto em elementos isolados, como close-ups de conchas e pimentões. Em suas imagens, a ênfase recai sobre texturas e formas puras, criando quase uma abstração a partir de motivos naturais. Weston privilegiava a luz natural e a nitidez absoluta, revelando detalhes sutis. Ele foi um dos fundadores do grupo f/64,  junto com Adams, Imogen Cunninghan, Willard Van Dyke, John Paul Edwards entre outros  que pregavam o uso de aberturas pequenas para maximizar a profundidade de campo e alcançar uma clareza extrema.

Edward Weston

Edward Weston

Edward Weston

Edward Weston

Com o surgimento das tecnologias digitais, a fotografia de paisagem ganhou novos rumos. Peter Lik, que construiu uma trajetória de sucesso comercial, é um dos expoentes desse movimento. Suas obras são conhecidas pelas cores saturadas e pela técnica de impressão em papeis e mídias especiais, capazes de realçar o contraste e a saturação. Embora também utilize câmeras de formato médio ou grande formato digital, o fluxo de trabalho de Lik envolve pós-produção muito sofisticada e um domínio intenso da edição de imagem, o que produz panoramas marcantes, quase surreais. Ele também se destaca no mercado de arte por atingir valores milionários em vendas, atraindo tanto colecionadores quanto críticos que questionam a originalidade ou o grau de manipulação aplicado às fotografias.

Peter Lik

Peter Lik

Peter Lik

Em termos de equipamento e técnica, a diferença entre esses fotógrafos se mostra evidente: enquanto Adams e Weston trabalhavam com filmes e processos de revelação em laboratórios  — buscando controlar cada etapa para extrair o máximo de tonalidades —, a geração de Peter Lik emprega sistemas digitais de alta resolução, softwares de edição avançados e mídias de impressão que permitem grandes formatos com cores intensas. Nesse sentido, a paisagem contemporânea abraça novas possibilidades estéticas, mas também levanta questionamentos sobre fidelidade ao cenário original e sobre o quanto a manipulação digital influencia nossa percepção de veracidade.

O impacto no mundo da fotografia decorre dessas mudanças tecnológicas e da forma como o mercado abraçou ou rejeitou esses novos processos. Se Adams e Weston eram vistos como artistas que promoviam uma fusão entre arte e ativismo ambiental, os profissionais modernos, caso de Peter Lik, muitas vezes acabam associados a uma vertente mais comercial, mas igualmente influente. Seu trabalho prova que a fotografia de paisagem segue viva e relevante, reconfigurando as fronteiras do que se entende por “representação fiel” da natureza. Em última análise, o que se observa é a continuidade de uma tradição que, mesmo transformada pelos novos meios de produção, permanece encantando espectadores e inspirando futuras gerações de fotógrafos.

Conheça mais o trabalho de Thales Trigo

Thales Trigo

Thales Trigo