A fotografia fine art é um tipo de foto produzida com alta qualidade a partir de papéis especiais e uma impressora profissional.

Esses papéis também são denominados como “fine art”. Eles são compostos por fibras naturais (geralmente algodão ou alfa-celulose) e não são branqueados artificialmente com cloro, garantindo assim uma maior longevidade à impressão.

A impressora deve apresentar um conjunto de fatores, tais como: alta resolução, maior espectro de cores, software mais avançado e utilização de tinta pigmentada – que gruda na superfície do papel e é mais resistente à luz e água.

Além da preocupação com o fenômeno estético da imagem, esse tipo de fotografia não se limita ao mero retrato da realidade. Existe uma grande carga de subjetividade por trás das lentes e dos olhos do fotógrafo.

Pensando nisto, separamos 7 dicas e ideias que você pode utilizar para fazer uma fotografia fine art. 

Flying to the Sea de André Ribeiro

1. Crie uma linha de trabalho coesa

Uma linha de trabalho coesa significa um conjunto de imagens que estão relacionadas entre si. Elas podem possuir temas, contextos ou técnicas em comum, por exemplo.

Às vezes, apenas uma imagem não é suficiente para transmitir seus sentimentos ou sua visão. É por isso que eu recomendo pelo menos 5 imagens para uma linha coesa.

Por exemplo, a fotógrafa Sally Mann retrata  as atividades de suas filhas e amigas em situações diversas no dia a dia, aparentemente pouco agitado.

Algumas das imagens dessa coleção estão listadas abaixo.

Observe em cada imagem as poses das crianças. Isso é comum em todo o trabalho, além de possuírem o mesmo estilo de processamento.

Sally Mann series

2. Siga o trabalho de fotógrafos famosos

A fotografia fine art é um nicho muito difícil e nenhum livro, artigo ou workshop pode ensiná-lo melhor do que estudar as próprias obras dos fotógrafos famosos.

Veja Annie Leibovitz, por exemplo, a famosa fotógrafa de retratos de fine art. Ela utiliza um estilo de iluminação único, juntamente com cores e poses ousadas. Josef Sudek e Philip-Lorca Dicorcia são outros que você pode pesquisar e se interessar.

O importante aqui é escolher um fotógrafo de fine art de que você goste e estudar sua linha de trabalho. Analise como suas imagens estão conectadas umas às outras; veja o que as torna especiais.

Veja, copie e repita. Com o tempo e muita prática, você vai começar a desenvolver um estilo único e muito rico com sua própria subjetividade. Não espere que uma hora você terá criatividade ou inspiração, isso é um mito. A prática constante que te fará evoluir.

3. Entenda a diferença entre o colorido e o P&B

Foto P&B e colorida

Luz e cor obedecem a lógicas diferentes. A primeira se manifesta nas imagens por meio de uma escala linear que contrapõe claridade (presença da luz) e escuridão (ausência). Já a segunda, se explicita num círculo de matizes diferentes, mas complementares.

É por essa razão que as fotos em branco e preto em geral parecem mais dramáticas e mais trágicas do que as fotos coloridas: é que as primeiras ressaltam os conflitos, as contradições. As imagens coloridas usualmente parecem mais amenas, mais contidas: elas substituem o tom épico das fotografias em preto e branco por um registro mais natural. Isso não significa que não existam inúmeras fotos coloridas extremamente comoventes, impactantes. Mas, ao que tudo indica, o emprego do claro-escuro aparentemente aumenta a nossa capacidade de expressar sentimentos.

As cores estão vinculadas à realidade concreta, visível, ao passo que o P&B só surge a partir de uma abstração – da subtração da primeira camada do real. Assim, enquanto as fotos coloridas tendem a mostrar o ser – a realidade tal como se mostra aos nossos olhos –, as fotos em preto e branco permitem a expressão de um dever-ser.

Saber essa diferença pode ser muito importante para você estruturar sua linha de trabalho.

4. Tenha uma declaração de artista

A declaração de artista é uma breve descrição do significado por trás das obras. Pense nela como um “substituto” para quando você não estiver presente para responder perguntas relacionadas à sua arte.

A arte é subjetiva. Cada um se depara com uma obra de alguma forma. Então, se você comunica sua história ao espectador isso o ajuda a ter uma compreensão mais rica sobre sua mensagem. 

Sua declaração de artista é sobre VOCÊ. Portanto, você precisa torná-la pessoal. Isso também funciona como um exercício para você esclarecer suas ideias sobre seu trabalho.

Algumas perguntas que podem nortear seu texto são:

  • Qual é o propósito da sua arte?
  • O que torna seu trabalho único?
  • Qual é a sua história de vida e como isso influencia na sua obra?
  • O que te motiva?

Essa introdução é bastante importante.  Não esqueça de ser conciso e usar uma linguagem mais acessível. Esta é uma ótima forma de criar um vínculo maior com o público que aprecia seu trabalho.

5. Use a velocidade do obturador para alterar a realidade

Visto que a fotografia fine art trata da visão do artista, você pode utilizar várias técnicas para enfatizar sua mensagem. Utilize algum tipo específico de técnica de pós-produção, truques de câmera ou composição de imagem.

Na imagem abaixo, Zoltan Bekefy queria enfatizar a natureza solitária do oceano. Com uma velocidade lenta do obturador, como 20 segundos por exemplo, ele pode criar um efeito de espuma e paz.

Você também pode usar esta técnica em pessoas, carros, etc., para alterar as cenas e dar-lhes um significado específico. Tente mostrar algo que nossos olhos não estão acostumados a ver na vida cotidiana.

Zoltan Minimal II

6. Use gradação de cores e estilos de processamento únicos

primeiros passos de Vincent Vang Gogh

Evite “ser mais um” no universo fine art. Ter um estilo de processamento ou gradação de cor único é muito importante para um fotógrafo neste campo. Ajuda a se destacar e ser reconhecido rapidamente pelo público interessado nesse tipo de arte.

Veja o pintor Vincent van Gogh. Ele tem um estilo muito distinto em suas pinturas. Se você o conhece, provavelmente reconhecerá suas pinturas entre centenas de outras pinturas. Esse é o poder de um estilo exclusivo.

Você não pode criar uma linha de trabalho apenas usando um estilo de processamento, mas ter um estilo consistente e único ajudará suas imagens a se tornarem mais coesas e conectadas.

7. Use um assunto para um projeto inteiro

Black faces de Marta Azevedo

Você pode usar um assunto específico para todo o seu trabalho ou um mini projeto, se desejar. É um bom começo para um projeto de fotografia fine art para iniciantes.

É fácil de planejar e executar; os resultados são mais consistentes e você aprenderá o básico enquanto se concentra em apenas um assunto.

Marta Azevedo, criou um projeto chamado Black Faces onde ela procurou por africanos de diferentes etnias para poder caracterizá-los em suas vestimentas tradicionais.

Quão mais específico é o seu projeto, mais fácil ficará produzi-lo e mais interessante vai ser a narrativa por trás dele. Escolha algo que está dentro do seu universo e fotografe. Muitas vezes, fotografar o público que frequenta o bar da esquina tem muito mais apelo fine art do que fazer fotos de uma viagem para a Europa.

Evite esses clichês

1. Imagens extremamente vagas

A fotografia artística não é um enigma a ser decifrado. Se o seu conceito for um pouco vago, tenha uma linha de trabalho coesa e uma declaração de artista para facilitar o entendimento das pessoas.

Imagens vagas mais confundem do que geram uma apreciação.

2. Imagens cheias de ruidos e granuladas

Às vezes, você fotografa com luz extremamente baixa e isso gera ruído, normal.

O problema é acrescentar ruído apenas para cobrir uma exposição ruim ou para fazer parecer que foi fotografado em filme.

3. Vinhetas fortes

As vinhetas ajudam a focar a atenção do espectador no assunto. Eu pessoalmente gosto de usá-las, seja em fine arts ou em qualquer outro tipo de fotografia.

Mas não adicione uma vinheta forte apenas para fazer a imagem parecer que foi filmada. Ou tentar esconder uma composição ruim.

Conclusão

A fotografia fine art vai além do que está realmente na frente da câmera. É uma interpretação muito pessoal de um artista de uma situação que pode ser muito diferente da realidade.

A essência desta fotografia é transmitir um certo sentimento ou uma mensagem por meio dela. A câmera é apenas um meio.

Você faz o que for preciso para transmitir a sua mensagem. Se você precisar, use técnicas na câmera ou pós-produção. Apresentar suas imagens através de uma linha coesa junto de uma declaração do artista não é apenas profissional, mas também transmite sua mensagem com mais clareza.

Você precisa de um diploma de belas artes para isso? Na minha opinião, não. É útil compreender a história e como a fotografia fine art evoluiu. Mas não é obrigatório.

O mais importante é treinar o seu olhar e usar sua imaginação para trazer algo único em situações comuns.

Fontes